rearranjo

Composição do genoma de vírus influenza amostrados em Hong Kong. Fonte: Science 2010, referência ao final do texto.

ResearchBlogging.orgPassado mais de um ano do surto de Influenza A H1N1, o vírus continua sendo monitorado ao redor do mundo, tanto os casos de gripe quanto a diversidade genética do vírus. Acompanhar a diversidade genética ajuda a entender se a vacina ainda é eficaz e o possível surgimento de novas linhagens.

Em Hong Kong, local com um papel importante no surgimento de novos vírus por seus mercados de aves e grande concentração de pessoas, o vírus infectou porcos de criação. E a análise de amostras de junho de 2009 a fevereiro de 2010 mostrou o que já era esperado: o vírus continua rearranjando.

O rearranjo ocorre quando dois ou mais vírus diferentes infectam uma mesma célula. O Influenza possui oito genes que precisam estar nos vírus que saem para que eles sejam infectivos, e quando mais de um vírus está presente nesta célula, os vírus formados são mosaicos de genes de origem diferentes. Este processo foi explicado em mais detalhes aqui. O rearranjo é preocupante pois o vírus que ele origina possui mudanças muito mais abruptas do que as adquiridas pelo processo mais comum de mutações, e estas mudanças podem ajudar o vírus a escapar de nosso sistema imune.

Em todos os hospedeiros o rearranjo é comum. Em aves, foi ele que deu origem ao vírus H5N1. Em humanos, originou os vírus pandêmicos H2N2 em 1957 e H3N2 em 1968. Nos porcos, ele deu origem a uma terceira linhagem de Influenza suíno em 1997. Até 1996, haviam duas linhagens principais de vírus suíno: o chamado vírus clássico, que surgiu em porcos da América do Norte por volta de 1918 e circula até atualmente; e o vírus Eurasiático, também originado de aves,  que circula em porcos desde 1979. Em 1997, os dois vírus suínos se rearranjaram com um novo vírus aviário, originando a linhagem conhecida como rearranjado triplo.

O que o grupo de pesquisa chinês encontrou está bem resumido na figura que ilustra este post. À esquerda estão os nomes dos vírus encontrados. Como já foi explicado aqui, o nome contém uma série de informações. O Sw se refere ao hospedeiro, swine ou porco, HK é a localização, Hong Kong, a numeração entre barras é o código atribuído à amostra, para catalogação, e  /09 ou 2010 referem-se ao ano de coleta.

Ainda no ano de 2009, foram encontradas em porcos três linhagens de vírus “puras” que contém genes de uma linhagem estabelecida (não são puras de fato pois muitas delas se originaram em eventos de rearranjo), o Influenza A H1N1 humano com seus oito genes em vermelho, o vírus Eurasiático, com os oito genes em verde, e o vírus triplo rearranjado, com os oito genes em amarelo. Também foram encontrados vírus com novos padrões de rearranjo, tanto entre Eurasiático e triplo, quanto com o vírus clássico norte-americano, marcado em azul.

No começo deste ano, foi encontrado o primeiro vírus rearranjado com genes do Influenza A H1N1 de 2009. Não deve ser um problema isolado, dado a frequência com que este tipo de evento acontece e a origem suína do vírus, que já selecionou genes competentes para que o vírus replique em porcos.

Este achado reforça a necessidade de monitorarmos animais de criação, principalmente aves e suínos, para prevenir o surgimento de novas linhagens e promover o preparo quando necessário. O rearranjo é um evento comum, e criamos cada vez mais animais e circulamos o mundo com facilidade. Enquanto não temos uma vacina que proteja contra várias linhagens de Influenza, a prevenção continua sendo nossa melhor arma.

Fonte:
Vijaykrishna, D., Poon, L., Zhu, H., Ma, S., Li, O., Cheung, C., Smith, G., Peiris, J., & Guan, Y. (2010). Reassortment of Pandemic H1N1/2009 Influenza A Virus in Swine Science, 328 (5985), 1529-1529 DOI: 10.1126/science.1189132