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Embora o H1N1 esteja circulando conosco desde pelo menos um pouco antes de 1918, passamos quase 20 anos livres dele. Em 1957, uma linhagem de Influenza recebeu três genes de um vírus aviário, entre eles novas HA e NA, e passou a ser chamado de H2N2. Com estas novas proteínas, não encontrou imunidade prévia na população e substituiu completamente o H1N1 que circulou até então. Depois de 11 anos, ele adquiriu uma nova Hemaglutinina e como H3N2 substituiu o H2N2 anterior.

O H1N1 continuou ausente da população até o ano de 1977. Neste ano, ele reapareceu na região do Leste Europeu e Norte da Ásia causando uma pandemia seríssima que foi chamada de Gripe Russa. Desde então, tanto o H3N2 quanto o H1N1 circulam entre nós. Cogita-se que o H3N2 não foi substituído pois já havia alguma imunidade contra o H1N1 e porque a população (e por consequência seus hospedeiros) já era mais numerosa em 1977, propiciando um “espaço” maior para o vírus circular.

Mas as análises do H1N1 de 1977 revelaram algo perturbador. Ele era muito parecido com o H1N1 circulante em 1950, antes da entrada do H2N2. Foi como se o vírus tivesse ressurgido, mas com alguns fatos aberrantes. Se ele estivesse circulando mas não sendo noticiado entre 1957 e 1977, ele precisaria ser diferente dos conhecidos, já que apesar de ser um vírus próximo, ainda estaria sob pressão evolutiva e se diferenciando. Mas ele continha poucas mutações nos genes HA e NA, e os demais eram idênticos. Pior ainda, embora ele fosse parecido com o Influenza circulante em 1950, era bem diferente dos de 1947 e 1957.

Era como se o H1N1 de 1977 fosse o vírus de 1950 reintroduzido na população. Se era este o caso, como ele teria feito isso? Vacinas! A única forma do vírus manter suas sequências tão preservadas é ter passado esses 27 anos congelado em algum lugar. Aliás, este é o termo dos autores do artigo, o vírus permaneceu congelado na natureza. Sim, assumir que ele estava em algum freezer e que foi liberado por engano é algo que só se pode fazer agora.

Mas contaminar a vacina com um vírus por engano e algo raro, que não deve acontecer atualmente, certo?

Sim e não. É algo difícil, mas possível. Tanto que aconteceu no começo deste ano. Em fevereiro de 2009, uma empresa que produz vacinas na Europa enviou três amostras contaminadas para países vizinhos, que o foram descobertas porque um dos laboratórios testou a linhagem da vacina em ferrets e viu que rapidamente os animais morreram. Morreram porque o vírus contaminante era o H5N1 altamente patogênico.

Felizmente as amostras ficaram confinadas ao labortatório e não foram utilizadas em vacinação, nem contaminaram os próprios funcionários que entraram em contato com ela. Mas de qualquer forma é o tipo de incidente que levanta preocupações imensas em todos os envolvidos e demanda uma ação rápida para eliminar o risco e desinfectar todas instalações. Graças aos testes feitos em um dos laboratórios, mostrando novamente que para Influenza prevenção é a melhor das medidas.

Fontes:

Zimmer, S., & Burke, D. (2009). Historical Perspective — Emergence of Influenza A (H1N1) Viruses New England Journal of Medicine, 361 (3), 279-285 DOI: 10.1056/NEJMra0904322

Scholtissek, C., von Hoyningen, V., & Rott, R. (1978). Genetic relatedness between the new 1977 epidemic strains (H1N1) of influenza and human influenza strains isolated between 1947 and 1957 (H1N1) Virology, 89 (2), 613-617 DOI: 10.1016/0042-6822(78)90203-9

Kendal, A., Noble, G., Skehel, J., & Dowdle, W. (1978). Antigenic similarity of influenza A(H1N1) viruses from epidemics in 1977–1978 to “Scandinavian” strains isolated in epidemics of 1950–1951 Virology, 89 (2), 632-636 DOI: 10.1016/0042-6822(78)90207-6